A treta entre David Gilmour e Roger Waters começou a ganhar força no final do final dos anos 1970, durante as gravações do álbum "The Wall". Na época Waters, que assumiu a liderança criativa da banda, passou a exercer um controle rígido sobre o processo de criação, o que gerou tensões com Gilmour, que se sentia cada vez mais discriminado. No trabalho seguinte, "The Final Cut", eles concluíram que não conseguiriam mais produzir juntos e Waters decidiu deixar a banda em 1985, que na cabeça dele acabaria por encerrar suas atividades.
Mas após a saída de Waters, a disputa se intensificou em torno dos direitos do nome Pink Floyd. Gilmour e os demais integrantes - o tecladista Richard Wright, que havia sido demitido por Waters na época do "The Wall" mas estava de volta, e o baterista Nick Mason - decidiram continuar a banda sem Waters, lançando novos álbuns sob o nome Pink Floyd, o que gerou processos legais por parte de Waters, que alegava que a banda sem ele não deveria continuar com o mesmo nome.
Embora o caso tenha sido resolvido fora dos tribunais, com Gilmour mantendo o direito de usar o nome da banda, a relação entre os dois músicos permaneceu fria e marcada por trocas públicas de farpas. Mesmo décadas depois, as tensões entre Gilmour e Waters ainda persistem, tendo o episódio mais recente acontecido quando Gilmour e Waters se estranharam por causa do conflito entre a Ucrânia e a Rússia.
"É muito estranho esse impasse continuar, na minha opinião. Acho que o problema é que Roger não respeita David. Ele acha que compor é tudo e que tocar guitarra e cantar são coisas que... eu não diria que são coisas que qualquer um pode fazer, mas que, para ele, tudo deve ser julgado na composição e não na interpretação (...) Acho que é estranho para Roger, que ele tenha cometido uma espécie de erro na forma em que ele saiu da banda, supondo que, sem ele, deixaria de existir", disse em 2018 o baterista Nick Mason durante conversa com a Rolling Stone.
Roger, de sua parte, alega que sua saída do Pink Floyd se deu por divergências políticas entre ele e os demais colegas de banda: "Se você tem princípios políticos e é um artista, então as duas áreas estão irremediavelmente conectadas. Esse é um dos motivos que me levou a deixar o Pink Floyd, inclusive: eu tinha esses princípios, os outros não tinham ou tinham outros princípios", disse em conversa com a Berliner Zeitung.
Já Gilmour declarou sobre o assunto em vídeo lançado para promover o box-set "The Later Years", focado em material lançado após a "era Waters" do Pink Floyd: "Todos sabíamos que Roger iria sair. Ele não estava feliz, nós também não. Eu sempre soube que queria seguir em frente, Nick parecia desejar isso também. Falei com Rick durante uma folga, na Grécia, e conversamos sobre seguir em frente e ele também queria".
O álbum que David Gilmour gravou quando a relação entre ele e Roger Waters estavam "no fundo do poço"
Qualquer pessoa que escreve sabe que você produz seu melhor trabalho ao escrever sobre o que conhece. Nesse sentido, não é surpreendente que os sentimentos mistos de Gilmour em relação a Waters ocasionalmente apareçam em suas próprias composições, conforme aponta a Far Out, citando como um dos exemplos mais notáveis o "About Face", segundo álbum solo de Gilmour, lançado em 1984, época em que a relação entre ele e Waters estavam literalmente no fundo do poço.
No álbum, Gilmour ataca Waters ao longo das faixas, mas o desabafo mais evidente apareceu na música "You Know I’m Right". Se você examinar a letra da faixa, não resta muita dúvida sobre quem Gilmour estava escrevendo. "Nós realmente parecemos ter um problema aqui. Mas é você ou sou eu? O que quer que eu tenha em mente, você sempre tem que discordar. É só uma questão de opinião, não é um simples fato. Por que você não tenta ver o outro lado? Não vire as costas."
Gilmour falou sobre "You Know I'm Right" em 2015 para a Mojo (com transcrição da Far Out: "[A música] não começou como uma canção sobre Roger, mas acabou se tornando uma, motivada pelo futuro do Floyd estar em dúvida", disse o guitarrista. "Você é tentado a permitir que essas queixas venham à tona nas coisas. Eu acho que, em geral, é uma má ideia. E se eu voltasse a isso, provavelmente não faria assim. É impossível não reclamar e lamentar as desigualdades e injustiças da vida."
Por Bruce William
Postado em 24 de agosto de 2024